23 fevereiro 2009

A vida e a morte de Jade Goody

Jade Goody é uma rapariga inglesa de 27 anos que, após uma infância miserável oferecida pelos pais toxicodependentes, foi descoberta pelos media no reality show Big Brother em 2002. Tornou-se famosa (com altos e baixos...) pela ignorância analfabeta (pensava que Rio de Janeiro era uma pessoa), pelo ar boçal, pelo par de mamas exagerado que bamboleava generosa e pelos comentários racistas que chegaram a provocar um quase-incidente entre a Grã-Bretanha e a Índia. Entretanto, publicou um livro (?), lançou um perfume e estava mais ou menos esquecida quando, em Agosto do ano passado, descobriu um cancro cervical. Sofreu, fez quimioterapia, caiu-lhe o cabelo, descobriu metástases, o cancro disseminou-se e, aparentemente, tem pouco tempo de vida. Tudo vivido, publicado e explorado como num reality show, com os tablóides a venderem na primeira página a história ao público como entretenimento emotivo (um daqueles filmes em que se chora...), culminando ontem com um casamento cujo exclusivo valeu 750 mil libras. A própria Jade diz que faz tudo isto para assegurar que, após a sua morte, os dois filhos têm uma vida melhor que aquela que passou na infância. As suas motivações são, por isso, respeitáveis e compreensíveis. Em relação aos meios de comunicação ingleses, as motivações são também, obviamente, económicas, e não há que esperar mais nem melhor de simples abutres. Já em relação ao público que consome, sedento, esta tragédia como se se tratasse de um espectáculo macabro, não sei o que possa dizer. Tenho, no entanto, a certeza que após a morte de Jade, haverá que encontrar novos protagonistas : the show must go on...

4 comentários:

Lília Abreu disse...

Olha, "no coments". É realmente tudo muito triste e, nunca conseguirei perceber a motivação dos "abutres". Nem isso, nem a maldade gratuíta.

E, parece que , para nascer é também preciso sorte.
Abraços com amizade,

filos disse...

Também escrevi sobre o caso no meu blog.

Não vou especular se Jade Goody é mais uma faceta de uma sociedade sádica, que, por se comprazer com o sofrimento alheio, anseia por presenciar os últimos momentos de uma mulher em sofrimento. Não há conclusão possível, pois isso exigiria um julgamento de valores, e não há mais valores.

Al Kantara disse...

Cara Dulcineia, a motivação dos abutres é o dinheiro que ganham com estas coisas. Porque ganham é que eu não consigo perceber...
Ah, e para nascer, pelo menos, é preciso não ter tanto azar como esta pobre rapariga...


Caro Filos : Não sei se a sociedade é sádica e se compraz com o sofrimento alheio. No entanto, só uma sociedade doente é capaz de integrar a doença e a morte no consumo do espectáculo, da fama e do efémero.

astracan disse...

Macábro, obsceno e...triste.