15 março 2008

Desvios pequeno-burgueses ?

Num recente editorial do Granma, jornal cubano que tem sido fiel e oficial amigo do regime, o director Álvaro Barredo, depois de anunciar uma série de medidas governamentais que acabam com as proibições de comprar videos, computadores, micro-ondas e dos cubanos se alojarem em Hotéis, alerta para o facto de estas medidas, por si só, não resolverem os problemas económicos de Cuba. Diz ele que falta produzir, gerar riqueza, e que isso só surgirá "del trabajo y de que gane más salario el que más produzca".
Ora aqui está um exemplo de uma afirmação que, há uns anos atrás, produziria uma hecatombe no edifício ideológico do regime. Ou simplesmente o despedimento do autor da frase. Mudam-se os tempos...

21 comentários:

bijagós disse...

... mudam-se as afirmações.

o castendo disse...

«de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo o seu trabalho» Karl Marx dixit.
Convém não manda bocas sobre aquilo que não se sabe...

Al Kantara disse...

Caro Castendo, as diversas e contraditórias leituras que Karl Marx foi tendo ao longo das décadas leva-me a fazer algumas confusões, não me parecendo ser este o caso. De qualquer forma, eu pensava que "de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades". Como vê, vale a pena mandar bocas sobre aquilo que se sabe...

Al Kantara disse...

Já agora, caro Castendo, se a minha citação não estiver correcta, faça o favor de me corrigir. Sempre recebi lições de Marxismo com o maior agrado. Geralmente por quem sabia mais da matéria do que eu...

António P. disse...

Caro Al-Kantara ,
eu também fico à espera das lições de marxismo do Sr. Castendo.
Um abraço

o castendo disse...

Caro Al Kantara,
Não se trata de lições, nem eu sou professor de marxismo. Sou, de vez em quando, formador de informática.
"de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo as suas necessidades" está correcto, mas só na fase do comunismo, quando a produção material permitir que assim seja, segundo Marx. Até lá é a minha citação que vigora, ainda segundo Marx «de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo o seu trabalho».

Al Kantara disse...

Caro Castendo, estendi-lhe uma casquinha de banana e eis que o caríssimo escorregou: Faça-me a justiça de partir do princípio que me é familiar essa questão da primeira fase da implantação do comunismo em que os salários serão diferenciados em função do trabalho realizado. A questão, caro Castendo, é que nunca Marx colocou a questão do crescimento económico como razão dessa diferenciação mas sim a questão de justiça da medida por não existir igualitarismo individual na primeira fase do processo socialista. Ora, o que o seu estimado camarada diz é que os salários devem ser diferenciados em função dos resultados (entenda-se produção), o que é um princípio que será subscrito por qualquer conselho de administração de qualquer empresa capitalista. Percebe a diferença ?…

o castendo disse...

Caro Al Kantara,
Lêmos Marx de diferentes maneiras, o que é natural. Só uma pergunta muito prática: como é que, na sua leitura, Marx estabelecia a diferença? Era em função de quê? E como é que se chegava, na sua leitura de Marx, ao comunismo sem crescimento económico? Por obra e graça do Espírito Santo?

Al Kantara disse...

Claro que o crescimento económico é uma consequência do trabalho em que o Espírito Santo não tem qualquer intervenção. No entanto, esse crescimento económico nem sequer tem muito a ver com a distribuição da riqueza, como se prova nas sociedades neo-liberais que continuam a crescer ao mesmo tempo que o fosso entre pobres e ricos aumenta. Na minha leitura, claramente diferente da sua, (repare que nem digo melhor, apenas diferente...) esta questão da diferenciação salarial era em Marx do domínio do ético ao nível da justiça distributiva. Aqui divergimos nas nossas leituras. Posso aceitar outras interpretações. No caso em apreço (Cuba) parece-me que essa diferenciação estará no domínio do prático e da motivação da força de trabalho. O que me parece pobre ao fim de 49 anos de revolução. Posso, é claro, estar enganado...

o castendo disse...

Caro Al Kantara,
1. O desenvolvimento económico (que é diferente de crescimento económico)não é neutro. Depende de que classe, ou classes estão no poder.
2. A não aplicação do princípio marxista-leninista que citei «de cada um segundo as suas capacidades, a cada um segundo o seu trabalho» nos países do socialismo real, URSS incluídos, a partir de determinada altura foi uma das causas internas, a nível da economia, fundamentais da reviravolta política verificada nesses países. Criou objectivamente um falso igualitarismo, desmotivador, desmobilizador e incorrecto em termos económicos.
3. Desconheço qual era a situação concreta nesse aspecto em CUBA. Mas com as consequências económicas de mais de 45 anos de bloqueio por parte dos EUA, aliada a erros próprios, não me custa a crer que houvessem (hajam)distorções a esse nível que agora se procuram corrigir.

Al Kantara disse...

Ora, caro Castendo, é isso precisamente que eu queria ouvir : Trata-se de uma medida de correcção de uma situação que não estaria a ser tratada de uma forma correcta . Bolas, finalmente estamos de acordo !...

o castendo disse...

Agora sou eu que não percebo...
Qual é o seu espanto em estarmos de acordo em algo que, pelo menos para mim, é uma verdade elementar?
Mas há alguma dúvida de que quotidianamente é preciso estudar, analisar, concluir, agir, qualquer que seja o sector de actividade? Muito mais se for na área política, económica, social?
Há alguma dúvida de que não existem, nem haverão, soluções feitas?
Há alguma dúvida de que existem, e haverão, múltiplos erros?
Há alguma dúvida de que esse erros têm e terão de ser corrigidos sob pena de se caminhar para a asneira certa (qualquer que seja o sector de actividade)?
Portanto, digo eu, muitas mais vezes estatremos de acordo...

Al Kantara disse...

Pois, caro Castendo, o meu espanto foi que coloquei um post em que sugeri que havia um ventinho de mudança em Cuba e recebi o seu primeiro comentário em que me instava a não mandar bocas do que não sabia...
Afinal, aparentemente, terá sido um mal-entendido. Vai ver que passamos a concordar mais amiúde se mantivermos esta saudável cordialidade coloquial...

o castendo disse...

Amén (assim seja).

o castendo disse...

Cá estou eu de novo,
Nada como as fontes. Já conhecia?

http://odiario.info/articulo.php?p=669&more=1&c=1

Al Kantara disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Al Kantara disse...

Caro Castendo, vou ler com atenção.

Anónimo disse...

Rapaziada,

Eu avisei-os, andam a pedi-las.

Um dia destes, estão a sair de casa, de um encontro mapa ou átrio de reitoria e.... Oh, coitadinho do Alcantarilha de Porcelana e do filho da p do António P.

…Ops, lá se partiu um fémur.

Falta-vos visão e horizontes mais dilatados. Deveriam viajar mais, pela América Latina, continente Africano, Ásia. Talvez desta forma, pudessem tirar os óculos que vos deram em pequeninos para terem medo dos comunistas.

Quer dizer, quando se referem a um país como Cuba, no contexto da América Latina, só vos ocorre a falta de papel higiénico, electrodomésticos e a existência de putas?

Sinceramente, não me espantaria nada, que fossem daqueles homens que decidem comprar mulheres e crianças, seja na Tailândia, seja no Intendente ou no Quénia.

Esperando que tenham tido um santo Domingo de ramos, desejo-vos uma época pascal mais contida.

A Camarada de serviço à Linha

PS – Quem discutiu convosco “a cada qual segundo a sua capacidade e possibilidade”, não está organizado, digamos que é apenas um bem intencionado.

Deixem-se de lérias e continuem a ler «Anita no Campo e na Cidade».

Já todos percebemos que V. Exas. são dois casos de insucesso escolar (com as devidas diferenças, o Alcantarilha sempre nos merece mais estima e é recuperável).

António P. disse...

Caro Anónimo(a)das 11:51,
Os desejos de uma Santa Páscoa. Já vi que a comemora como qualquer bom camarada.
A falta de humor aliada ao insulto não é um caso de insucesso escolar é um caso de falta de argumentos e de acreditar nos milagres ( se não forem os de Fa´tima são os do Fidel ).
Como saberá quando se trata de fé deixa de ser possivel ter uma conversa com troca de pontos de vista já que os dogmas se manterão sempre.
Fique bem com a sua fé e dogmas.

Al Kantara disse...

Caro anónimo(a):,
Por motivos óbvios, este é o ultimo comentário seu que ficará neste blog. (E só fica para que as pessoas percebam o nível de perturbação mental). A partir de agora, utilizarei o poder de eliminar comentários sempre que provenham da sua estimada pessoa.
Os melhores cumprimentos

Al Kantara disse...

Caro Castendo : Começa bem o texto em apreço ..."é preciso:
1) libertar a mente de paixões, preconceitos.." No entanto, logo a seguir, perde-se a autora em avaliações subjectivas como "autêntica revolução", "Cuba é afortunada. Está pronta para o presente e para o futuro", que me parecem directamente saídas da paixão e preconceito da autora. Pelo meio, uma série de resultados eleitorais cuja quase unanimidade me deixa estupefacto.
E o dado de não ter o Partido vocação eleitoral ( aparentemente está acima dessas coisas...) nunca me parece suficientemente explicado. Por ultimo, do pensamento de Fidel sobre a revolução, destaco que a frase "é igualdade e liberdades plenas". Por isso tenho para mim que enquanto aos cubanos não forem garantidas todas essas liberdades plenas, (dando-lhe apenas o exemplo de poderem viajar livremente), não estará cumprido nada do que deve ser um programa socialista. Tenha paciência, mas este texto parece-me indicar que se vai (tentar) mudar muito pouca coisa para (tentar) que tudo fique na mesma.