28 abril 2005

Nuestros hermanos

Sou do tempo em que ir a Espanha era sinónimo de uma tarde passada a comprar inenarráveis bonecas de tamanho quase natural, perfumes intensos com nomes tão sugestivos como Maderas del Oriente, fabricados no Polígono Industrial de Tarragona, caramelos peganhentos e chocolates de qualidade duvidosa. Enfim, a imagem de marca de uma pequena burguesia pequenina, ávida de consumir tudo o que viesse de fora.
Hoje, os espanhóis sabem bem lidar com esses tão lusos sentimentos. Abriram o El Corte Inglés no centro de Lisboa, capital do Império. E é vê-los, portuguesinhos aos magotes, a passarem a fronteira, ali ao Parque Eduardo VII, e a fazerem fila para entrar no Reino Suas Majestades, em versão hiperespaço comercial, olé, olé, muchas rebajas, oportunidades únicas de navidad, compre quatro, pague dois, deixe o décimo terceiro adiantado, aceitam-se tarjetas, olé, olé que já os lixámos, estes tíos são tontos por tonterías, nem precisámos de um tonto tão tonto como o Dom Sebastião, se os Filipes fossem vivos morriam de tanto rir, porque se não lembraram eles desta tanga do El Corte, tinham-se poupado guerras e batalhas e fidalgos mortos e Miguéis de Vasconcellos defenestrados à má fila, e conjuras e conjurados e outros que tais, pois se esta gente quer é Zaras, caramelos e muñecas...

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