Tinha quinze anos, logo após as primeiras leituras de Sartre e Camus, impressionado ainda pela inteligência que tudo aquilo transpirava, entrei na pastelaria do beiçolas, à Pampulha, e anunciei aos meus amigos que tinha aderido ao existencialismo. Pasmados, olharam-me respeitadores.
Passei a ouvir Jazz, a usar roupa escura e a transportar um ar chateado que me conferia uma indubitável superioridade intelectual. A melena negra a precisar de shampô para cabelos super-oleosos também ajudava. Os meus amigos guardavam um silêncio embasbacado quando eu expunha os meus pontos de vista neo-existencialistas, e o próprio beiçolas, vulgarmente agreste para estes catraios que lhe ocupavam as mesas toda a tarde por uma bica, passou a tratar-me com outra reverência e solicitude.
Esta fase de crescimento que durou mais ou menos um mês e meio foi um momento de glória, do qual guardo gratas recordações. Afinal, o que eu queria era que as pessoas gostassem de mim.
Ainda hoje não sei se não serei existencialista. Nem que seja um bocadinho...
30 abril 2005
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